quinta-feira, 10 de julho de 2008

FALTA DE AFETO

Bakwin e colaboradores informam que os índices de mortalidade, de 95% , para crianças doentes longamente institucionalizadas e 15% , para as que vivem em ambiente familiar, mostram que aquelas desenvolvem maior suscetibilidade para infecções, quando cuidadas ou tratadas por pessoas competentes, mas que não se relacionam com elas afetivamente.
Harlow observou traumatismos em macaquinhos com mães afastadas deles e, verificou maiores distúrbios nos macacos que não recebiam afeto por falta de mãe.
Spitz, em suas observações, concluiu quanto à importância do amor, descrevendo casos de morte por carência afetiva, que havendo aleitamento natural, quer artificial, na ausência de afeto da mãe ou substituta.
Observando o bebê, sentimos que ali está, momentaneamente adormecida, uma mente criativa, uma energia em potencial, pronta para reconstruir seu mundo, suas emoções, às expensas do meio que lhe cerca, do amor que lhe chega.
O aconchego na amamentação, o tocar seu corpo pequenino, as carícias suaves, os gestos de ternura, os sussurros de amor, todos os cuidados a ele dispensados pelos pais embevecidos são emoções que despertam, para sempre, registros em seu psiquismo.
É período sensível do ser vivo, que lhe abre nova compreensão do seu crescimento interior, trabalho lento, minuciosamente orientado pelos instintos que lhe servem de guias, impelindo-o a determinados comportamentos característicos desta fase da vida.
Com o desdobrar dos sentidos, com o amor e desvelos recebidos, torna-se o bebê mais seguro, confiante, aos poucos mais independente, tomando consciência de si mesmo e do que representa. Toma conhecimento do que precisa saber que é extremanente importante para a formação dos seus caracteres pessoais: eu sou amado.
Da mesma forma, os gestos de irritação, impaciência, descuido, violência, repulsa, são agressões, não verbalizadas algumas vezes, que serão também registradas para o resto da vida, marcando-o profundamente pela descoberta que realiza: como sou detestado.
“A criança que não recebe suficiente afeto em sua infância, em especial no seu primeiro ano de vida, projetará as conseqüentes sensações no ambiente e não terá, por isso, equilíbrio emocional para aceitar o mundo e nele ser aceito”, reforça Dr. Hain Grunspun, professor de psiquiatria infantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Cessadas as fases de sensibilidade, até um ano, e a de socialização individual, até o terceiro ano de vida, as conquistas intelectuais devem-se a uma atitude reflexa, ao esforço da vontade, às pesquisas e explorações do ambiente e das pessoas que a rodeiam e uma especial vitalidade interior que explica as suas conquistas naturais.
Se a família corresponde a seus anseios, com demonstrações de carinho, calor humano em quantidade, diálogo franco, respeito, ensinamentos morais, disciplinas e ordem, ela terá respostas cheias de alegrias e verdades, sente que faz os outros felizes pelos seus próprios méritos e valores pessoais. Não precisa fazer nada para ser amada, senão ela mesma. Será uma criança aberta às amizades, a confiar nos outros, a retribuir calor humano e amor. Será honesta e autêntica. Desabrochará qual singela rosa, robustecida em seus propósitos aprimorados pelo amor de Deus.
Aqui, os compromissos existentes na retaguarda se transformaram em estrelas rutilantes, filhas da compreensão, do perdão, da fraternidade que a todos reformou, pelo ato de servir amando.
Entretanto, a grande maioria dos pais adota a postura “amor condicional”, que sempre degenera num amor tipo “balança de dois pratos”, onde o bebê percebe com facilidade as condições que seus pais lhe impõem para amá-lo. À medida que ele cresce, crescem também as cláusulas do amor condicional, exigências impostas entre sorrisos ou cara fechada, frieza ou afetividade, palavras ou silêncio. A criança paga um preço de admissão ao amor que presume ter direito.

Revista Cristâ do Espiritismo

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